Você ainda está aqui??
Se essa newsletter não tivesse morrido lá em 2021 (sabia que fazia tempo, mas tomei um susto ao confirmar a data da última edição), talvez eu já tivesse estabelecido uma tradição: compartilhar minhas listas de melhores do ano. Dessas bem detalhadas, com rankings, categorias, subcategorias e até um esquema especial de notas.
Confesso que sou um fã declarado desse ritual. Adoro esperar ansioso pelas listas das pessoas que admiro e acompanho, descobrir o que inspira, emociona ou chama a atenção delas. Mas quando chega o momento de criar e compartilhar a minha própria lista, sempre me vejo questionando: Por quê? Quem realmente precisa de mais uma lista dessas?
Recentemente, me deparei com essa reflexão que ampliou esse questionamento. Com os algoritmos no controle, não é de hoje que me pergunto se realmente consumimos o que queremos ou somos levados a consumir o que aparece para nós.
Também penso sobre o porquê de gostar do que gosto, de onde vêm essas preferências e se outros se interessariam pelas coisas que aprecio e o que tenho a dizer sobre elas.
Em tempos de redes sociais, onde a relevância parece medida por curtidas e comentários, já me perguntei se vale a pena escrever uma resenha ou recomendar um livro que talvez receba pouquíssima interação. Muitas vezes, tenho a sensação de ser aquele chato insistente que compartilha algo que ninguém pediu.
Ainda assim, a resposta para mim é que sempre vale a pena compartilhar. Porque falar através das coisas que consumo é, acima de tudo, uma forma de me expressar, de me conectar e de entender melhor quem sou. E mesmo que minha curadoria dialogue com influências externas, ela ainda é minha — fruto das experiências e emoções que essas obras despertaram em mim.
E é por isso que sinto tanta falta de escrever essa newsletter. Aqui, escrever e compartilhar parece mais autêntico. Não há a pressão dos números de engajamento, só a vontade de organizar ideias, recomendar o que me marcou e, quem sabe, inspirar alguém. É claro que fico feliz quando alguém gosta de algo que escrevi ou recomendei, mas a motivação principal é o prazer de compartilhar por si só.
E não tem época melhor para retomar isso (já estou até atrasado, eu sei). Pra quem muitas vezes fica sem saber sobre o que escrever, a temporada oficial das listas já traz a temática de bandeja. É quando todo mundo está compartilhando seus favoritos e redescobrindo o que marcou os últimos meses, que aproveito para fazer o mesmo: revisitar e organizar meus preferidos, compartilhar as coisas que gostei e me expressar através delas.
Pra sacudir a poeira dessa newsletter, aqui vai minha curadoria pessoal dos melhores livros, filmes e séries que consumi em 2024. Espero que algo chame sua atenção e te inspire a não quebrar essa corrente de recomendações.
Newsletters
Já perdi o controle da minha caixa de entrada e não consumo tantas newsletters quanto antes, mas sigo sendo um entusiasta do formato. Não podia deixar de indicar algumas, das que acompanho há tempo sem perder uma edição até as novas descobertas.
Margem, Bits to Brands, Uma Palavra, a Passageiro, a do Boa Noite Internet do Cris Dias (que consumo muito mais que o próprio podcast) e a Newsletter do Braga são as que continuo seguindo fielmente sem perder uma edição. Além da quantidade de referências e links inspiradores, todas trazem reflexões sobre assuntos que me mantém com um curioso olhar sobre o mundo.
Também gostei de passar a acompanhar “os causos” e as idas e voltas pra casa da conterrânea Juliana Patricio, os achados da Galáxia, as atualizações do universo da cultura digital através da Resumido e os ensaios sobre cultura e internet da Venho por meio deste.
Seguirei espalhando a palavra da newsletter. Talvez você ache que não tem o que dizer ou compartilhar, talvez ache que não sabe escrever. Eu penso tudo isso sobre mim e ainda estou aqui, escrevendo mais do que nunca, para mim mesmo. Recomendo.
Livros
Vale comentar que 2024 marcou minha retomada ao hábito da leitura (dá até pauta pra uma futura edição). Em ordem aleatória, segue o que li de melhor.
Quando Deixamos de Entender o Mundo e Maniac - Benjamin Labatut
Vi muita gente comentando sobre o Maniac e depois de ler que o “QDEM” era meio que um prelúdio, comecei por ele. Devorei os dois em sequência, algo que há tempos não fazia. Acabou que Benjamin Labatut foi minha grande descoberta do ano. É até difícil explicar o impacto do seu experimento literário — misturar ficção e não ficção de forma tão simples e surpreendente. Escrevi um pouco mais sobre eles no meu feed mas basta dizer que é pura epifania pra quem gosta de ciência, biografias e um baita texto.
Stoner - John Williams
Gostei tanto de Augustus na época que li, que lembro de correr atrás dos outros livros de John Williams. Stoner ficou desde então na interminável lista de “livros que preciso ler” e só me pergunto porque demorei tanto pra tirar de lá. A premissa pode parecer desinteressante mas é impossível não se identificar com as pequenas vitórias e grandes derrotas íntimas desse anti-herói comum. Livraço.
Lebron - Jeff Benedict
Adoro biografias. Além de conhecer a trajetória de alguém, elas nos oferecem uma visão sobre a época, o entorno e o contexto da pessoa. LeBron James é uma força da natureza que domina a NBA há mais de duas décadas.. E é uma maravilha acompanhar os bastidores da sua incrível jornada. O livro é, até agora, o melhor retrato da era atual da NBA — e traz argumentos sólidos para quem o considera o novo maior jogador de basquete de todos os tempos (alerta de polêmica!).
Guerra dos Tronos - George R. R. Martin
Depois de um período em que nada prendia minha atenção, resolvi reassistir todas as oito temporadas da série. Não satisfeito, mergulhei nas 1.186 páginas do primeiro livro da saga. Resultado? Além de ser o responsável por trazer de volta meu prazer na leitura, confirmei meu caso de completa adicção por todo o universo de Westeros. Agora, especialmente para quem gostou da série, só digo uma coisa: leiam os livros.
Adeus, Salinger é uma linda homenagem ao J.D. Salinger. O protagonista, Elvis, captura a rebeldia, o humor singular e a angústia adolescente do icônico Holden Caulfield. Um achado para fãs de O Apanhador no Campo de Centeio.
O Infinito em um junco é um deleite para quem ama literatura e esse artefato mágico que é o livro. Leitura obrigatória para quem gosta de livros sobre livros.
Bem-vindos à livraria Hyunam-dong também é uma ode ao poder dos livros. Leve e inspirador.
V13 é uma leitura intensa e cheia de nós na garganta. Mal terminei e já coloquei todos os livros de Emmanuel Carrère na minha lista.
Doppelganger traz um perturbador relato pessoal junto com uma investigação detalhada sobre o sombrio submundo da desinformação e da radicalização online. Necessário.
A Cabeça do Santo alterna entre lenda, suspense e romance em uma mágica viagem por uma cidadezinha no interior do Ceará.
A Mulher Ruiva é mais uma mistura de mito e verdade, subconsciente e realidade numa prosa impecável cheia de reviravoltas.
Matéria Escura é uma aventura eletrizante, cheia de reviravoltas, profundidade emocional e dimensões alternativas.
Quem Ama, Educa! é meu indicado pra quem tem filhos. Inclusive, estou atrás de indicação de outros.
Retomei o hábito, me surpreendi com algumas obras e redescobri o prazer de mergulhar em histórias incríveis. Animado para ampliar descobertas literárias em 2025.
Séries
Também encontrei tempo para as séries. Inclusive para rever minha favorita de todos os tempos.
House of the Dragon - Fiquei tão empolgado com a segunda temporada de HOTD que, ao terminar, veio aquela vontade de continuar mergulhado no universo de Game of Thrones. Quando dei play no primeiro episódio da série, não imaginei que ia assistir tudo do início ao fim outra vez, mas foi o que aconteceu. E essa maratona acabou sendo uma virada de chave para resgatar meu prazer em assistir e ler ficção.
Dear Mama - Um documentário em formato de série sobre Tupac Shakur e sua mãe, Afeni. Como fã do artista, sou suspeito para falar, mas é uma obra indispensável para entender o impacto cultural e o legado de Tupac. Não concorreu ao Grammy de melhor filme musical à toa.
Acima de qualquer suspeita - Sobre o estrago que um homem pode causar à própria família e, ao mesmo tempo, sua disposição para salvá-la. Entrega atuações, roteiro, produção. É televisão de altíssima qualidade.
Hacks - Não sei como, mas essa série consegue melhorar a cada temporada. Já está na terceira e continua sendo uma das coisas mais bem escritas da TV atualmente.
Senna - Uma superprodução brasileira que me transportou direto para os domingos da minha infância, assistindo às corridas com meus primos na casa do meu avô. É assustadoramente emocionante reviver os momentos de adrenalina, euforia e consternação enquanto acompanhamos a trajetória de um dos maiores ícones do Brasil.
True Detective (Temporada 4) - A nova temporada recupera a essência da primeira, com aquele clima sombrio, personagens enigmáticos e um mistério policial que flerta com o sobrenatural.
Pinguim - Nada de super-heróis. É uma série de máfia e drama criminal. Redondinha e super bem produzida. Facilmente, umas das melhores do ano.
Fim - Assisti sem saber que era baseado num livro da Fernanda Torres. Nove personagens, suas relações e a passagem implacável do tempo formam uma trama reflexiva e visceral. Mais uma produção brasileira que merece toda atenção.
Sr. e Sra. Smith - Uma releitura que mistura de ação, comédia e carisma de sobra. Escapismo de qualidade.
Filmes
Eu lembro de assistir a quase todos os concorrentes ao Oscar 2024 durante madrugadas insones, enquanto vigiava minha filha recém-nascida dormindo no carrinho ao lado. Entre os cochilos dos filhos e os meus, consegui construir uma lista de filmes marcantes.
Dias Perfeitos - Uma história preciosa sobre a criação de consciência de um homem comum, determinado a desacelerar num mundo frenético e a enxergar a beleza nas pequenas coisas. Meu novo filme favorito, que, quanto mais o tempo passa, mais favorito fica.
Monster - A história de uma criança perturbada contada sob três pontos de vista diferentes. Mostra como fofoca, convicção e perspectiva podem mudar completamente o panorama de uma situação e das pessoas envolvidas. Pesado, mas ao mesmo tempo sensível e incrivelmente bonito
Aftersun - Um exercício de paciência, já que seu ápice parece nunca chegar, mas que encontra uma força incrível no que escolhe deixar em silêncio. Quase dormi no início, até que me pegou de jeito. E o final me atingiu como um tijolo.
Os Rejeitados - Paul Giamatti (que sou fã muito graças a Billions) interpreta um professor tão mala quanto gente boa. Um filme meio melancólico, meio engraçado — essa eterna sensação tragicômica que é viver. Meu estilo de filme.
Anatomia de uma queda - Clássico filme de crime e julgamento em que o “matou ou não matou” é só a superfície. Trata de ambiguidades como realidade ou ficção, verdade ou mentira, certo ou errado. Envolvente, cheio de nuances e com reviravoltas até o fim.
Guerra Civil - Apesar de ver muita gente torcendo o nariz, por aqui curti muito. Tensão do início ao fim, uma fotografia de tirar o folego e o Wagner Moura tirando onda.
Ficção Americana - Dos concorrentes ao Oscar, era o que tinha menos expectativa e, talvez por isso, foi o que mais me surpreendeu. Os dez primeiros minutos são uma aula de roteiro que te fisga absurdamente. Recomendo muito pra quem gosta de literatura e uma narrativa tradicional.
Ainda Estou Aqui - Muito já foi falado sobre esse (e sobre a bravíssima conquista da Fernanda Torres no Globo de ouro) Foi o único que me fez planejar toda uma operação com as crianças para garantir minha única ida ao cinema no ano — e não podia ter escolhido melhor.
Se alguém chegou até aqui, ficarei feliz em saber. Embora a motivação principal seja o simples prazer de compartilhar, vai ser ainda mais legal se vier alguma recomendação do lado daí também.
No fim, esse exercício de construir uma lista com recomendações de livros, filmes e séries vai além de compartilhar gostos pessoais: é um ato de celebração da cultura. Uma forma de valorizar o que nos emociona, nos inspira e nos conecta.
Essa foi para desenferrujar. Não sei se daqui a um mês ou um semestre, mas voltarei por aqui. O primeiro passo foi dado. Um feliz 2025.
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👨💻Textos e curadoria por Edgar Oliveira.
Bom te ver novamente por aqui, Edgar. Ótimo conteúdo como sempre.